Instituto Politécnico de Lisboa – Escola Superior de Teatro e Cinema
8–10 de Maio de 2024
Conferência organizada pela Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa – em parceria com Narrativa, Média e Cognição – como uma ode à impureza medial e artística. Estamos particularmente interessados em estudos de caso ou argumentação teórica sobre formas de arte enquanto media e as suas variadas e abundantes ligações, muito para além das relações dualistas que são a condição mínima de intermedialidade (ou seja, da inter-relação entre formas de arte).
Línguas da conferência: inglês e português
Em 1967 no artigo “Art and the Arts”, Theodor W. Adorno defendeu que as fronteiras entre as diversas artes se tinham tornado fluidas ou, mais precisamente, que as suas linhas de demarcação haviam sofrido uma erosão” (2003: 368, tradução nossa). Todavia, apesar de o hibridismo se ter tornado uma tendência crescente nas artes em tempos recentes, o fenómeno não é novo. Um olhar mais atento permite-nos ver que as artes sempre foram intrinsecamente híbridas. Por exemplo, a dança requer o complemento da música, apesar de poder dispensá-la em situações de gestualidade ritual. Também a arquitectura, nas suas componentes sacra, aristocrática, ou memorial, se serve da estatuária e de baixos e altos-relevos. A pintura possui muitas vezes um cunho alegórico, representando conceitos através de figuras arquetípicas – algo que também ocorre na literatura. O teatro desde a Antiguidade clássica que adapta tragédias e comédias, conhecidas na sua forma literária como dramas. A escultura pode ser policromática, aproveitando o pictorialismo da pintura. Mesmo a música, a mais abstracta das artes, é baseada no ritmo tal como o são outras artes performativas, e pode ser combinada com outros elementos para gerar subcategorias como a ópera.
Assim, a impureza das artes – defendida por Richard Wagner, André Bazin, Dick Higgins (1965), Lúcia Nagib & Anne Jerlev (2014), W.J.T. Mitchell (2017), entre outros teóricos – parece indubitável. Se as artes são impuras e sempre estiveram interligadas, então a intermedialidade sempre existiu. A cartografia deste estado recente das artes foi muito habilmente empreendida por Ágnes Pethő (em 2010 e 2015).
Como tal, a polémica em torno da suposta especificidade das artes, levada a cabo do século XVIII em diante, especialmente por Gotthold Ephraim Lessing no seu tratado Laocoon (1767), começou por ter uma motivação ideológica: convencer-nos da superioridade de uma forma de arte sobre as restantes. Neste aspecto residia a sua pureza. Séculos depois, o pensamento é outro. Alain Badiou (1998) considera o cinema o somatório das artes (“plus-one”) dado que este colecciona propriedades das suas antecessoras na tentativa de as superar. Do mesmo modo, Chiel Kattenbelt, designa o teatro como um híper-meio (2005). A superioridade que alguns teóricos, porventura, ainda vislumbram em algumas formas de arte já não depende da pureza das mesmas, antes pelo contrário. Hoje em dia o panorama artístico gera novas configurações formais e sensoriais de um modo que, de acordo com o conceito de Deleuze e Guattari, é verdadeiramente rizomático.
As formas de artes tornaram-se caóticas e heterogéneas, destabilizando o território de todos os media, abrindo-se a todas as inter-relações e pontos de entrada, resultando em novos usos e variações. Com efeito, a aceleração da sociedade contemporânea desencadeou um ímpeto experimental de contornos hedonistas que se traduz numa multiplicidade de formas, sentidos e sensações. O desenvolvimento tecnológico em curso contribuiu para este cenário. Tal como observado por Jürgen Heinrichs e Yvonne Spielmann: “Em termos conceptuais, o processo de intermédia reside numa fusão em vez de uma acumulação de meios artísticos. Logo, a convergência de elementos dos diferentes media implica uma transformação que é superior à soma das suas partes” (citado por Pethő, 2011: 29, tradução nossa).
Já em 2007 Claus Clüver apresentara uma classificação de relações mediais que incluía ligações genéricas entre meios, a transformação de um meio noutro, e por fim, a fusão de meios. Porém, as artes não podem ser avaliadas sem atendermos aos seus respectivos meios (mediums). Com efeito, para Lars Elleström (2010) as artes são meios qualificados, pois configuram-se como grupos de procedimentos determinados por convenções históricas, culturais e sociais. Por ouro lado, as artes também possuem um lado técnico, dependendo inteiramente de instrumentos de mediação para manifestar a sua forma e conteúdo.
Tópicos sugeridos (entre muitos outros possíveis):
- Concepções de media, intermedialidade, cross-media.
- Mediação, remediação, transmediação.
- Hibridismo, fronteiras entre media, miscigenação, fusão.
- Formas de arte como meios qualificados, meios como veículos artísticos.
- Primórdios das práticas interartísticas / intermediais.
- Casos interartísticos ao longo da história.
- Problemática da especificidade medial no seio da intermedialidade.
- Casos de fusão artística.
- Novas linguagens artísticas geradas por combinação de artes.
- Artes expandidas e pós-mediais.
- Adaptação ou expressão narrativa nas artes.
- Ekphrasis audiovisual ou performativa.
- Sensorialidade nas artes e objectos artísticos.
- Espaço e tempo nas artes.
- Movimento e ritmo vs. estatismo nas artes.
- Visualidade vs. performatividade.
- Propriedades artísticas.
- Adesão espectatorial e imersão.
Oradores convidados:
Ágnes Pethő – Sapientia Hungarian University of Transylvania (Roménia)
Chiel Kattenbelt – Utrecht University (Países Baixos)
Paulo Filipe Monteiro – Universidade Nova de Lisboa (Portugal)
Submissão:
Convidamos à submissão de propostas para uma apresentação oral de 20 minutos. As comunicações podem ser submetidas individualmente ou em painel pré-constituído por três apresentações. No entanto, se durante a conferência um membro de um painel ficar impossibilitado de apresentar a sua comunicação, teremos de redistribuir os restantes oradores por diferentes painéis ou cancelar o painel na íntegra.
Esta conferência é essencialmente presencial, pois pretendemos desencadear uma (pro)fusão de intercâmbios intermediais entre investigadores. Porém, uma pequena quota (20% do total de apresentações) será destinada a comunicações remotas, atribuível apenas a investigadores afiliados em instituições académicas de fora da Europa. Não serão aceites painéis na modalidade de apresentação remota.
A proposta deve conter um resumo (no máximo 500 palavras), 5 palavras-chave, pelo menos 3 referências bibliográficas e uma pequena biografia do/a autor/a (no máximo 250 palavras). Enviar para Fátima Chinita (chinita.estc@gmail.com).
Taxa de inscrição:
(Inclui pausas para café, um almoço ligeiro e jantar da conferência)
Investigadores: 120 €
Estudantes: 60 €
Apresentações remotas: 80 €
Data limite para submissões: 5 de Fevereiro de 2024 (segunda-feira)
Divulgação dos resultados: 12 de Fevereiro de 2024 (segunda-feira)
(Poderão ser dadas respostas antecipada para efeitos de obtenção de financiamento junto de centros de investigação ou entidades académicas, caso a submissão também seja efectuada com antecedência).
Data limite para inscrição na conferência: 15 de Março de 2024 (sexta-feira)
Publicação:
Tencionamos publicar uma selecção de artigos baseados nas comunicações apresentadas na conferência, sob a forma de um número especial de revista académica e/ou uma colectânea em contexto internacional. Ambas as línguas da conferência serão contempladas.